O osso é um tecido vivo. Sem suprimento sanguíneo ele morre, gerando alterações no seu formato. Quando isso ocorre na cabeça do fêmur, ocasiona uma doença chamada de osteonecrose do quadril.
A osteonecrose do quadril também é chamada de necrose avascular da cabeça femoral.
A necrose da cabeça do fêmur afeta adultos jovens, na faixa dos 20 e 50 anos, sendo mais frequente no sexo masculino, na proporção de 4 homens para cada mulher acometida.
A maioria dos pacientes, entre 60 e 80%, apresentam envolvimento dos dois lados do quadril.
Porque o nome desta doença é osteonecrose?
O termo necrose é utilizado para descrever a morte de uma célula ou de um tecido.
Pode parecer estranho, mas todo o osso do nosso corpo é formado por um tecido vivo, com vasos sanguíneos, nervos e células como qualquer outro tecido ou órgão.
O problema é que em algumas situações o suprimento de sangue que chega para o osso pode ser interrompido. Quando isto acontece, o tecido morre, causando uma necrose.
Se necrose significa morte, osteo significa osso, o que literalmente indica uma morte no osso.
Seria o equivalente ao que acontece com o músculo do coração quando entra em infarto, ou quando fazemos um garrote na perna e cortamos a circulação, porém isso ocorre no tecido ósseo.
A partir da necrose de um osso, o corpo começa um verdadeiro processo de limpeza do tecido morto, colocando no lugar um osso mole, o que pode alterar seu formato gerando sequelas.
Embora possa acontecer em vários locais do corpo, a necrose óssea é muito mais frequente na cabeça do fêmur:
- Sem suprimento sanguíneo, o osso do quadril pode sofrer deformidade, chamada colapso, que altera sua esfericidade. Como resultado, o movimento do encaixe não acontece mais de maneira correta.
- O próximo passo é a destruição da cartilagem e, consequentemente, desgaste. Vale salientar que a primeira alteração gerada pela necrose é a morte do tecido ósseo que, se sofrer colapso, pode interferir na cartilagem.
Então pode-se dizer que a osteonecrose do quadril é um problema no osso que pode danificar a cartilagem quando não tratada.
Existem inúmeros fatores que podem levar à falta de sangue para a cabeça do fêmur e produzem a osteonecrose do quadril.
Fatores que podem levar à osteonecrose do quadril
1. Sequela de trauma
Fraturas ou luxações na articulação do quadril podem danificar os vasos sanguíneos e prejudicar a circulação óssea a ponto de causar uma necrose.
2. Consumo excessivo de álcool
Uma causa muito encontrada é o consumo de álcool, sendo que bebidas destiladas apresentam mais relação.
3. Uso de corticoide
Muitas doenças, como asma e reumatismos, são tratadas com o uso de corticoides. A ocorrência de necrose está relacionada ao tempo de uso do medicamento e à quantidade ingerida. Por isso, o uso de corticoides deve sempre acontecer sob supervisão médica.
4. Outras condições
Tabagismo, quimioterapia, radioterapia, alterações de coagulação como anemia falciforme e talassemias, leucemia, linfomas, doença do mergulhador, doenças reumáticas como o lúpus.
Como nem sempre é fácil identificar o que ocasionou a osteonecrose do quadril, muitas vezes consideramos como a causa desconhecida e damos o nome de idiopática.
Isto ocorre em até 20% dos casos.
A dor no quadril é o primeiro sintoma. Localizada profundamente e irradiada para a virilha.
Mas como identificar se a dor pode ser necrose da cabeça do fêmur?
A dor inicialmente aparece apenas aos esforços, como correr ou ficar muito tempo em pé. Sua localização é bem profunda, na região da virilha, ou ao redor do quadril e não pode ser palpada.
Com a progressão da doença, ocorre dor ao repouso e incapacidade para ficar em pé, geralmente fazendo o paciente mancar. O indivíduo típico da osteonecrose do quadril é um homem com idade entre 35 e 50 anos, queixando-se de dor na virilha, sem causa aparente.
A doença pode evoluir de meses a mais de um ano, sendo o diagnóstico na fase precoce, de suma importância, uma vez que as técnicas de tratamento biológico têm melhores resultados nesta fase.
O sucesso do tratamento também é baseado no grau e na extensão da necrose, por isso é urgente a necessidade da avaliação do paciente por profissional especializado.
Quais exames confirmam o diagnóstico da osteonecrose do quadril?
Embora o primeiro exame a ser solicitado seja a radiografia, na fase inicial, ela pode não evidenciar alterações na cabeça femoral.
Já em fases avançadas são perceptíveis as alterações típicas de deformidade e colapso com possível desgaste associado.
A ressonância magnética é o exame mais sensível para se identificar um caso de necrose da cabeça femoral, especialmente nos estágios iniciais da doença, sendo capaz de determinar o quanto de osso foi comprometido pela necrose.
É um excelente método para detectar doença no quadril oposto, mesmo sem dor, devido ao grande número de acometimento dos dois lados. Outro exame que pode auxiliar o diagnóstico é a cintigrafia óssea, porém, é pouco específico.
O tratamento da necrose da cabeça femoral é baseada no estágio da doença, no tamanho do acometimento ósseo e no perfil de cada paciente, dividindo-se o tratamento em conservador (sem cirurgia) e cirúrgico.
O objetivo maior é a prevenção da forma esférica da cabeça, sem que aconteça o colapso ósseo ou deformidades capazes de lesionar cartilagem.
Por isso, deve-se iniciar um tratamento precoce e bem conduzido enquanto a condição se encontra nos seus estágios iniciais.
Qual o tratamento mais indicado para a osteonecrose?
Embora as opções de tratamento sem cirurgia, como o uso de medicamentos e muletas, possam aliviar a dor e retardar a progressão da doença, as opções de tratamento de maior sucesso exigem cirurgias.
A técnica mais realizada é a descompressão medular da cabeça femoral, no intuito de diminuir a pressão intraóssea e aumentar o fluxo de sangue para o local. Esta técnica visa realizar uma verdadeira perfuração na área de osso morto.
Ela pode ser associada a curetagem deste osso desvitalizado, colocação no local de enxerto ósseo e estimuladores biológicos para auxiliar a formação de novos vasos sanguíneos.
Clique aqui para baixar as diretrizes para diagnóstico e tratamento da osteonecrose feitas pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
Quando a descompressão não é indicada?
Quando a osteonecrose é diagnosticada após a deformidade da cabeça femoral, a descompressão, geralmente, não é bem-sucedida. Nesta situação, a lesão de cartilagem muitas vezes é irreversível.
O paciente recebe tratamento para prolongar a vida útil da articulação e manter movimento com qualidade através de medidas de fortalecimento, medicação, protetores articulares, infiltrações.
Porém, pode chegar na indicação de substituição completa da articulação do quadril, com a prótese de quadril.
A avaliação precoce de qualquer caso de dor no quadril é a melhor forma de prevenir quadros graves de doenças que apresentam tratamento, como é o caso da osteonecrose do quadril.
