O impacto femoroacetabular é uma das doenças mais frequentes atendidas em consultórios médicos especializados na articulação do quadril. Quando não tratado no tempo certo, ele pode gerar a tão temida artrose no quadril, um problema que causa dor e incapacidade no paciente.
Por este motivo, o impacto femoroacetabular, também chamado de IFA, mereceatenção especial. É um problema que deve ser tratado antes que ele comprometa estruturas anatômicas do quadril.
Além disso, o IFA também pode ser responsável pela ocorrência de incapacidade precoce em pessoas adultas jovens, principalmente aquelas que praticam algum tipo de esporte.
Esses são alguns entre tantos motivos que fazem o impacto femoroacetabular ser uma patologia que deve ser investigada, diagnosticada e tratada.
Neste artigo, você vai ver tudo o que precisa saber sobre essa patologia.
O que é impacto femoroacetabular?
Impacto femoroacetabular é o impacto anormal que ocorre entre o fêmur (osso da coxa) e o acetábulo (cavidade da bacia) durante a realização de alguns movimentos do quadril no dia a dia.
Trata-se de um problema que não ocorre em quadris normais, ou seja, as causas do impacto femoroacetabular são alterações anatômicas, estruturais, que geram o contato precoce entre as estruturas que compõem o quadril: o colo do fêmur e o osso acetábulo.
O impacto entre estes ossos começa leve e evolui progressivamente. Movimentos simples da rotina, como sair do carro ou levantar da posição sentada, podem iniciar o dano às estruturas da articulação. . As lesões são maiores em pacientes que praticam algumas atividades físicas com movimentação ampla e intensa do quadril, como ballet, artes marciais e outros exercícios que exigem amplitude.
Estes movimentos acabam por beliscar uma cartilagem inserida na lateral da cavidade articular, chamada labrum ou lábio. Geralmente é esta estrutura que inicia a dor e a lesão.
Quando não tratada, a lesão do labrum tende a evoluir para uma lesão na cartilagem interna da articulação, o que representa o início do desgaste articular.
Existem três tipos de impacto femoroacetabular:
Impacto femoroacetabular tipo CAME
O impacto femoroacetabular tipo CAM ou CAME é mais comum em homens, sendo ele a principal causa de lesão de cartilagem do quadril em pacientes jovens.
Essa patologia é caracterizada pela presença de osso a mais na lateral da cabeça do fêmur, provocando um aumento do contorno ósseo. Desta forma uma estrutura que deveria ser redonda fica ovalada, semelhante a uma lombada, na parte localizada entre a cabeça e o colo do fêmur.
No impacto femoroacetabular CAME, o contato ósseo acentuado durante movimentos de rotação interna da coxa e flexão, tem impacto precoce no acetábulo, causando o atrito que pode lesionar a junção entre a cartilagem acetabular e o labrum.
Estudos apontam que esse tipo de impacto é um dos principais fatores de risco para facilitar o aparecimento precoce da artrose do quadril.
Impacto femoroacetabular tipo PINCER
O impacto do tipo PINCER, por sua vez, é mais frequente em mulheres.
Ele é caracterizado pela presença de uma proeminência óssea localizada na porção óssea da cavidade da bacia, e não na cabeça femoral.
A deformidade causada pelo impacto femoroacetabular do tipo PINCER consiste no aumento da cobertura óssea da cabeça do fêmur por parte do acetábulo.
Tal aumento pode ser a causa da limitação dos movimentos do quadril como limitação da abertura da perna ou flexão da coxa.
O impacto femoroacetabular do tipo PINCER está diretamente ligado à lesão do labrum, devido a anatomia dessa estrutura fibrocartilaginosa ser comprimida entre o fêmur e o acetábulo em algumas posições de impacto.
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Impacto femoroacetabular tipo MISTO
Por fim, o impacto femoroacetabular tipo misto é a forma mais comum deste problema e ocorre quando o paciente tem a presença do tipo CAM e do tipo PINCER no mesmo quadril.
Apesar destes pacientes apresentarem as duas formas de impacto, geralmente uma acaba sendo mais importante que a outra.
Sintomas do impacto femoroacetabular
A ocorrência do impacto femoroacetabular não está relacionada à presença de dor em todos os casos. A manifestação clínica de algum sintoma, às vezes, não ocorre nem mesmo em pacientes que praticam esportes de alto rendimento. Isto provavelmente está relacionado a alguns fatores que impedem o impacto, como posição da bacia em relação a coluna, encurtamento de tendões ou da cápsula articular, restrições de mobilidade, entre outros.
Nestes casos, o diagnóstico do IFA é feito apenas por meio de imagens que detectam a presença de alterações ósseas no colo do fêmur e no acetábulo. Estes pacientes realizam o exame de imagem por algum outro motivo, como queda ou fratura, e acabam por descobrir a alteração articular.
Nos casos em que há a presença de sintomas como dor e limitação do movimento, é utilizado o termo Síndrome do Impacto Femoroacetabular (SIFA).
A SIFA normalmente está presente durante a realização de atividades rotineiras e esportivas e é caracterizada pela redução na mobilidade do quadril seguida de dor.
O sintoma mais importante da SIFA e que deve ser avaliado pelo médico especialista é a dor de dentro da articulação do quadril. Ela é localizada na virilha e facilmente se irradia para parte anterior da coxa, podendo ser percebida também como uma dor profunda na região lateral.
Trata-se de uma dor que aparece quando o paciente faz moviemntos como se agachar, andar de bicicleta, correr ou sentar por tempo prolongado em locais baixos, entrar e sair do carro, calçar sapatos e meias.
Outros sintomas menos aparentes da SIFA envolvemdificuldade para realizar atividades físicas,alteração na forma de andar (andar mais lento, mancando ou passos mais curtos),fisgadas e travamento do quadril.
Estudos têm mostrado que adolescentes que realizam níveis altos de atividade física e que praticam esportes que exigem grande amplitude de movimento têm maiores riscos de desenvolver deformidades associadas com o impacto femoroacetabular.
Diagnóstico e tratamento do impacto femoroacetabular
O diagnóstico da síndrome do impacto femoroacetabular é feito após avaliação para identificar as alterações funcionais e o foco de dor. A melhor forma de tratar qualquer paciente é buscando a causa inicial do seu problema de saúde. Só assim teremos um tratamento direcionado e efetivo.
O primeiro passo para que isto aconteça, é uma conversa com um médico da área. Ele colherá informações importantes para caracterizar a doença e excluir alguns problemas urgentes, como fraturas ou tumores.
Toda vez que alguém apresenta dor no quadril, é obrigatório analisar problemas de amplitude do movimento da articulação e possíveis alterações próximas à região, como distúrbios na coluna, joelho ou diferença de tamanho entre as pernas.
Nesta etapa, um exame físico minucioso pode confirmar a suspeita da SIFA.
Só então o médico ortopedista especialista solicita exames de imagem para analisar a anatomia óssea e verificar se existe lesão do labrum ou da cartilagem.
Para a Síndrome do Impacto Femoroacetabular, os exames mais importantes são: radiografia e ressonância. É na radiografia que aparecem as alterações ósseas que predispõe os tipos de impacto CAME (alteração óssea da cabeça do femur) ou PINCER (aumento da cobertura do acetábulo).
Um outro exame que pode ajudar a definir a causa do impacto é a tomografia computadorizada com reconstrução tridimensional. Este exame é solicitado quando se tem dúvidas sobre a origem do impacto, ou qual osso está contribuindo mais para que ocorra a lesão do labrum. Por isso, em alguns casos particulares, ele pode ser solicitado como forma de planejamento do procedimento cirúrgico.
Ao contrário do que muita gente imagina, nem sempre é necessário o tratamento cirúrgico para o impacto femoroacetabular. Os melhores resultados com o tratamento conservador estão nos pacientes com mais idade, naqueles que tiveram algum trauma agudo (como uma queda com abertura das pernas), nos que exibem alguma descompensação na coluna ou joelhos e nos que não apresentam restrição de movimento do quadril ao exame físico.
Quando a cirurgia é indicada, o principal procedimento é a videoartroscopia de quadril. Um procedimento minimamente invasivo, que corrige as alterações anatômicas da cabeça do fêmur (CAME) ou do acetábulo (PINCER), além de estabilizar lesões do labrum ou da cartilagem.
O grande objetivo da cirurgia é corrigir a causa do impacto para prevenir a evolução para um possível desgaste. Se isto for possível, a melhora da dor e da mobilidade pode ser atingida em mais de 90% dos pacientes, que retornam a uma vida de movimento e esporte sem dor.
Este artigo não tem o intuito de substituir a avaliação de um médico ortopedista especialista. Só ele poderá diagnosticar a causa do seu problema e estabelecer estratégias corretas para sua recuperação.
Conviver com dor não é normal! Procure um especialista e evite a ocorrência de complicações ou que patologias evoluam até se tornarem irreparáveis.
Cuide da sua saúde e bem-estar!